Naquela tarde ela resolveu
revisitar as conversas passadas... as cartas facilmente acessadas num clique.
Tantos anos juntos, tantas
histórias, tanto compartilhamento, discussões sobre absolutamente tudo, e muita
piada e sorrisos também... uma história abandonada em algumas poucas atitudes,
jogada aos ares pelo descaso e falta de consideração. Ele simplesmente havia
esquecido de como o coração daquela moça pulsava, da sensibilidade e maciez de
seu olhar.
E agora, anos depois, ele reaparece
como um estrangeiro, andarilho, e deixa mais uma carta dentro da garrafa que
eles costumavam usar como abrigo às palavras que, juntos, teciam.
Ela, uma mulher que agora já
carregava um olhar triste, e no peito um coração frágil, temeu tocar naquele
universo desconhecido de palavras já estranhas. Guardou o segredo por dias... e
como poderia chegar perto, novamente, do que causou tamanha dor e perturbação?
Pensou em simplesmente ignorar o
chamamento que ecoava das paredes da garrafa, mensageira... por um instante
tinha resolvido que essa seria a melhor alternativa. Seguir em frente e deixar
enterrada a rama de espinhos e lágrimas que outrora fora sua parceira de dias.
(...)