5 de agosto de 2018

Uma nova carta

Naquela tarde ela resolveu revisitar as conversas passadas... as cartas facilmente acessadas num clique.

Tantos anos juntos, tantas histórias, tanto compartilhamento, discussões sobre absolutamente tudo, e muita piada e sorrisos também... uma história abandonada em algumas poucas atitudes, jogada aos ares pelo descaso e falta de consideração. Ele simplesmente havia esquecido de como o coração daquela moça pulsava, da sensibilidade e maciez de seu olhar.

E agora, anos depois, ele reaparece como um estrangeiro, andarilho, e deixa mais uma carta dentro da garrafa que eles costumavam usar como abrigo às palavras que, juntos, teciam.

Ela, uma mulher que agora já carregava um olhar triste, e no peito um coração frágil, temeu tocar naquele universo desconhecido de palavras já estranhas. Guardou o segredo por dias... e como poderia chegar perto, novamente, do que causou tamanha dor e perturbação?

Pensou em simplesmente ignorar o chamamento que ecoava das paredes da garrafa, mensageira... por um instante tinha resolvido que essa seria a melhor alternativa. Seguir em frente e deixar enterrada a rama de espinhos e lágrimas que outrora fora sua parceira de dias.

Dias depois a coragem tomou conta de suas mãos e abraçou a parafernália num golpe de ousadia e indomável coração desbravador; abriu a carta.

(...)