24 de outubro de 2018

seu peito guardava a chama

ela pouco sabia da vida
.
e os tamanhos percalços que viriam tentariam roubar a chama que acendera em seu peito desde o primeiro sopro


pessoas passaram numa enxurrada leviana arrancando pedaços do seu coração com fervor legítimo - sabor fel
.
e ela descobriria em dias seguintes, distantes, vindouros, que muitos outros insistiriam em atear cinzas em seus caminhos


pintaram muros e construíram fundações públicas em nome de ideais secos de humanidade e banhados por torpor
.
eras e estações misturadas silenciaram a destreza de seus lábios em sorrir ingenuamente aos céus e aos corações 


um instante em êxtase e exílio do senso comum a tomou pela mão; correram numa dança incansável por veredas e vales em busca do calor
.
embainhou o amor e galopou por marés de alento e bondade... foi sol e abrigo... abraçou os olhares sedentos


seu peito guardava a chama
seu sorriso lar da imensidão do universo




9 de outubro de 2018

retorno

e serenou
o mar acolheu suas agruras
apalpou cada retalho de dor 
esculpiu asas - mármore e corais
lentamente encharcou de tempestade o peito

amante o que se era, amante ainda se é

preta tez enegrecida por olhares uns
coisa de pele saltada aos olhos outros
e na caminhada gentil seus pés lavam a alma 

sal e sol no acarinhar do peito que ainda sorria - sorri
não num fingir de alegria das estampas e brocados midiáticos
e sim no reluzir do coração que agradece e saúda a vida
com bordado em fios de ouro: ser quem se é